Paulo Gomes – 2007

Porões A-paralelos ou Ariadne sem Fio

A ação coletiva intitulada Porões A-paralelos propõe uma multiplicidade de atividades ajustadas e integralizadas, com a possibilidade de ser definida tanto de dança, videodança, videoinstalação, teatro, performance, in situ ou qualquer outro gênero híbrido.

As sugestões de deslocamento e de duplicidade de lugares e personalidades é o mote inicial dessa ação. Chamemos de ação, pois que deliberadamente assume sua indefinição, como reflexo da natural  da multiplicidade dos elementos que a compõe. Mas o tempo é o personagem chave da ação. O tempo da contemplação, que tradicionalmente associamos às obras de artes (sejam elas do tempo ou do espaço) é, aqui, substituído integralmente por aquele tempo que denominamos de diegético, isto ee, aquele que a obra estabelece com suas próprias dimnsões. Esse tempo comporta a contemplação e a fruição, junto com  duração propriamente dita, e coloca o espectador numa dimensão altamente complexa. Ele se estende abrindo uma outra dimensão além da diegese e da fruição.

Estamos na entrada desse labirinto como Ariadnes aflitas, evidentemente fora do labirinto, mas com a certeza da ausência daquele fio que permitiria que o seu outro, o príncipe Teseu (seu duplo natural, pois ela o ama) possa libertar-se. Situação difícil.

Quando da separação das artes, estabelecida por G. Lessing, ainda no século XVIII, em artes do tempo e artes do espaço não suspeitávamos que a união de todas se daria graças, principalmente, à tecnologia. Isto é o que temos nesta manifestação plástico-visual: Porões A-paralelos é uma ação em abismo que se repete ad infinitum, desrespeitando as necessárias cronologias, sincronias e diacronias de que tanto precisamos para nos sentirmos “equilibrados”. Esta acronicidade mergulha o espectador em um universo inseguro e informe, buscando conscientemente a confirmação da única certeza que temos sobre a vida –  a incerteza de todas as coisas.

 

(Porões A-paralelos/ Galeria Porão do Paço Municipal, P Alegre/RS , agosto de 2007)

Paulo Gomes

Artista e Crítico de Arte

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